"Fazer voluntariado vale a pena não só para eles, como para

nós, e também para os outros, mas acabamos por ganhar muito com isso."
















quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Entrevista a um voluntário

Olá! :D Hoje vamos publicar uma entrevista que realizamos a uma voluntária pertencente à Associação Cor é Vida e aqui fica um grande "obrigado" e um beijinho para ela... :)

Primeiro e último nome: Nathalie Costa.
Idade: 35.

Entrevistadora: Com que idade começou a fazer voluntariado?
Nathalie: Comecei com 16 anos, tirei um curso de socorrismo na Cruz Vermelha em França e lá ajudávamos os pobres, nomeadamente distribuindo roupas e alimentos a pessoas que viviam na rua e percebi que gostava e o quão importante era para mim ajudar as pessoas necessitadas, principalmente no campo emocional e psicológico. No entanto, quando vim para Portugal parei de o fazer durante uns tempos.

E.: Então, a principal motivação para fazer voluntariado foi ter-se apercebido do quão importante era para si ajudar as pessoas necessitadas?
N.: Sim, sem dúvida. Acho que esta característica nasce com cada um, está dentro de cada pessoa. Eu sentia necessidade de ajudar e procurar como fazê-lo, sair de casa, porque em casa as coisas não se fazem, temos nós que ir ao encontro delas.

E.: A que associação está ligada?
N.: Associação “Cor é Vida”.

E.: Porquê essa associação?
N.: Como disse, quando vim para Portugal estive parada um tempo. Entretanto, conheci a D. Manuela, a presidente da associação, e como sou contabilista convidou-me para ser tesoureira da associação. No início pensei em recusar pois a associação trabalha com crianças com cancro e “cancro” é uma palavra que só por si assusta e, para além disso, já tive casos na família e achava que não seria capaz, mas comprometi-me somente como tesoureira. Com o tempo, acabei por participar também nas visitas às crianças.

E.: É, portanto, um membro bastante activo?
N.: Como tesoureira, não trabalho muito uma vez que a associação não dispõe de muitos recursos financeiros. No entanto, no que toca às visitas ao hospital, vou cerca de uma vez por mês, mas há gente que vai semanalmente, mas a minha não mo permite pois também sou mãe, esposa, dona de casa... Claro que em certas ocasiões, como foi agora no Natal em que fui duas vezes, faço questão de ir mais do que uma vez.

E.: Sendo assim, considera difícil conciliar a sua vida familiar e profissional com o voluntariado?
N.: É como digo, tenho de ter tempo para a minha família, para os meus filhos e por isso não vou semanalmente, mas com esforço consigo conciliar. São duas horas por semana, duas horas não é assim tanto tempo, não custa a ninguém e também o hospital não fica assim tão longe da minha casa.

E.: A sua participação na associação exige-lhe despender de muitos dos seus recursos financeiros?
N.: Não, exige-me tempo e coragem, mas não gasto muito dinheiro para além das viagens que faço, pois, por exemplo, no Natal, em que doei brinquedos às crianças, aproveitei os brinquedos dos meus filhos e vou fazendo assim. Fazemos voluntariado mas não pensamos nos gastos não se pode pensar assim.

E.: Que tipo de actividades desenvolvem com e para as crianças? 
N.: Tentamos animá-los das mais diversas formas, por exemplo, música e pinturas; fazemos recolhas de brinquedos e temos uma voluntária que é psicóloga e se disponibiliza a dar apoio psicológico às famílias. Há crianças que estão lá tanto tempo que acabamos por conhecer as famílias. Por vezes, os pais deixam os seus empregos para se dedicarem aos filhos doentes e nós procuramos ver o que falta nas suas casas, fazemos recolhas de roupas, de brinquedos…inclusive, procuramos ir às suas casas e lá damos-lhes apoio psicológico e um bocadinho de alegria.

E.: O que sente ao fazer voluntariado e ao observar o resultado das suas acções junto dos necessitados?
Eu acho que quem faz voluntariado na associação não é muito…não é qualquer pessoa que consegue ir ao hospital e lidar com as situações complexas que nós vemos lá. Acho que quando vemos pessoas com cancro custa bastante então ver crianças e recém-nascidos com cancro não é imaginável. Quando se chega lá é assustador, mas também muito gratificante, tento esquecer o que vejo. É tão gratificante ver os pais… Os pais quando nos vêm ficam logo felizes, nota-se que eles querem uma palavrinha e, no fundo, não vamos só para ajudar as crianças mas também para dar uma palavrinha de conforto aos pais, apoia-los, se eles querem tomar um cafezinho nós ficamos com a criança. No fundo, são os únicos momentos que têm, pois durante a semana estão sempre lá e nós aparecemos no Domingo de manhã e eles parecem sempre estar à nossa espera. Nesse aspecto é gratificante, uma pessoa quando sai dali tenta esquecer aqueles problemas das crianças, mas fica com o seu sorriso e com o dos pais. Sinceramente, nunca pensei ser capaz de fazer aquilo que tenho feito, sempre achei muito bonito, mas muito difícil. Fui uma vez e fiquei uma semana chocada pelo que vi, mas consegui a fazer a minha vida e em casa não posso deixar de dar apoio à minha família.

E.: Que experiência mais a marcou?
N.: Marcaram-me crianças que estavam em fase terminal, crianças desfiguradas, com cancros na face…não foi o que mais me marcou, é o que mais me toca no coração porque os bebés, coitadinhos, não conhecem outra coisa que não o ambiente hospitalar. Muitas vezes nem existem tratamentos para os bebés ou crianças, mas eu, sinceramente, nunca quero saber se existe ou não, nem nunca pergunto qual é o tipo de cancro que uma criança tem ou como está a correr o tratamento, pois trata-se de situações muito complicadas e muitos dos casos nós sabemos que são crianças que não têm solução e eu não quero saber, não quero saber porque senão não consigo estar lá. É preciso ter um bocadinho de coragem e criar uma carapaça para nos defendermos porque muitas vezes não conseguimos deixar de pensar. Os casos que mais me marcam são quando as pessoas me dizem as idades dos filhos doentes e dizem 3 ou 5 anos, que são as idades dos meus filhos, esses são os casos que mais me marcam. Havia uma menina… Não vou contar, nem se deve contar aquilo.

E.: Que importância tem o voluntariado na sua vida?
N.: O voluntariado mudou-me como mulher e como mãe. Quando chego a casa tenho mais vontade de estar com eles, vontade de desfrutar da vida, porque realmente nós não damos valor à vida e quando vemos coisas assim ajuda-nos, dá-nos uma auto-estima muito grande e faz-me pensar que os meus problemas não são nada, há problemas muito maiores, não nos podemos queixar da vida. Porque muitas vezes as pessoa queixam-se de coisas pequenas. E fico contente quando eles me chateiam, quando eles gritam, quando eles correm…estão saudáveis e espero que continuem assim. Nunca me esquecerei que na minha lua-de-mel descobri que o meu marido tinha a diabetes e fiquei muito abalada, quando fui fazer voluntariado e desabafei com uma pessoa com a filha com cancro ela disse-me que isto não era nada, “a minha filha tem três anos e não sei quanto tempo de vida tem” e nunca mais me esqueci dessa pessoa.

E.: Pelo que considera que vale a pena fazer voluntariado?
N.: Se não fizermos voluntariado não damos valor à vida. Eu acho que se ganha muito. Quando se vê um sorriso, pensamos que não fazemos muito, mas saímos de lá com a auto-estima em alta. Saímos de lá e sentimos que conseguimos distrair a criança, dar um pouco aos pais…

E.: Pretende deixar-nos alguma mensagem em relação ao voluntariado?
N.: Eu acho que um voluntário faz muito. Fico satisfeita quando saio de lá e vejo as pessoas a virem ter comigo e a dizerem-me “obrigada”. Mas não têm que agradecer, são só duas horas num domingo, qualquer pessoa pode dar, não é nada, nada do nosso tempo. Eu trabalho, sou casada, tenho dois filhos…e não me custa nada, traz-me muito a nível pessoal e temos de o fazer do coração. Vale a pena, para eles, para nós, para os outros, mas nós ganhamos muito com isso.


Esperamos que tenham gostado e que a mensagem desta voluntária tenha tocado os vossos corações, sensibilizando-os para a prática de voluntariado. :)

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