Deixamo-vos a entrevista que realizamos à Presidente da associação COR É VIDA, Íris, a quem mandamos um beijinho e um enorme obrigada por toda a disponibilidade e simpatia! ;)
ENTREVISTA À PRESIDENTE DE UMA ASSOCIAÇÃO
Entrevistadora: Primeiro e último nome.
Presidente: Manuela Pinheiro, mas por aqui conhecem-me como Íris.
E.: Idade.
P.: 55 anos. Mãe de quatro filhos, avó de três netos.
E.: É presidente de uma associação de voluntariado. Já fazia voluntariado antes de fundar a associação “Cor é Vida”?
P.: Sim, sim. Eu desde que me conheço, desde a minha formação académica que estive sempre integrada em projectos de índole voluntária, sendo que… não me lembro, não me lembro… Acho que associei sempre a minha actividade profissional à actividade de voluntariado.
E.: Com que idade começou a fazer voluntariado e a interessar-se por movimentos de solidariedade?
P.: Sim… Pronto, eu tive o privilégio de integrar uma equipa multidisciplinar, a convite de uma professora minha da faculdade, onde exercia funções de carácter social, no estrangeiro. Depois, posteriormente, integrei numa ONGD, não governamental, e estive 18 anos em diferentes países a trabalhar com uma equipa multidisciplinar. Fazíamos a caracterização de realidades desfavorecidas ou de exclusão social e desenvolvíamos projectos direccionados para a transformação dessas mesmas realidades.
E.: Pode-se dizer, portanto, que começou a interessar-se por voluntariado durante a sua vida académica?
P.: Sim, à volta dos 17 anos.
E.: Com que instituições ou movimentos colaborou?
P.: Olha, existe uma que é a The Family Care Fundation, que é uma organização não governamental, onde tem pólos em diferentes partes do mundo, sobretudo países considerados países de Terceiro Mundo. E trabalhei com… Paralelamente com essa organização, trabalhei com várias organizações direccionadas precisamente para acções humanitárias e associações sem fins lucrativos.
E.: Essas acções que desenvolviam eram desenvolvidas nos países onde estava ou em países, como disse, de Terceiro Mundo?
P.: Eram nos países onde estava. Estive em Espanha, França, Bélgica, a trabalhar com realidades de imigrantes, pessoas que…a maior parte das pessoas que vinham do Bloco Leste, na altura. E depois no Brasil, em que trabalhei em diferentes cidades.
E.: Falou da professora que, na universidade, a incentivou a fazer voluntariado, foi ela a sua maior motivadora?
P.: Não, não. Ela não me incentivou, ela não me incentivou. Eu… A minha… O meu voluntariado vem da minha família, quem me incentivou foi…a minha maior impulsionadora foi a minha mãe. Esta professora foi uma professora que apostou em mim e me convidou para integrar uma equipa multidisciplinar na área de serviço social.
E.: Então qual considera ser a sua maior motivação?
P.: A minha maior motivação? Foi a minha mãe, sem dúvida. Foi uma pessoa que e deu o exemplo, era uma pessoa que…já não está cá fisicamente, mas que tinha o dom do amor e foi, sem dúvida, ela que através do exemplo dela, que me incentivou a estar atenta às necessidades das pessoas em situações vulneráveis.
E.: Então está-lhe nos genes? Ao entrevistamos a voluntária Nathalie, desta associação, ela disse-nos que considera que fazer voluntariado nasce com a própria pessoa, partilha dessa opinião?
P.: Eu acho que pode nascer, mas também pode ser estimulado, acho que o voluntariado também pode ser cativado, pode ser uma forma de estímulo. Por isso eu penso que é tão importante o ano como este ano, o Ano Internacional do Voluntariado, serve para isso mesmo, o objectivo é sensibilizar as pessoas para a importância de serem mais atentas ás necessidades dos outros e também a ter uma atitude mais responsável perante a…
E.: Com que idade fundou esta associação?
P.: A Cor é Vida, ela iniciou… O conceito do projecto iniciei no Brasil, isto em 2000. Entretanto, aqui, em Portugal, que era, no fundo, o meu objectivo principal, era criar um projecto e ajudar a um voluntariado mais compromissório e disponível e responsável. Começou em 2003, precisamente. Perguntou-me que idade é que eu tinha na altura, que idade é que eu tinha em 2003? 48 anos.
E.: Porquê uma associação direccionada para crianças com problemas de saúde?
P.: Pronto, porquê? Porque eu sou uma mãe de quatro filhos e acho que a dor maior que alguém…que alguma mãe ou algum pai pode ter é precisamente essa. É ver-se impotente de poder dar a vida a um filho quando essa vida lhe é tirada. Não é? Portanto, não me vejo, não me vejo… E considero os pais os maiores heróis e heroínas de toda a histórias, são precisamente pais que se deparam com um filho com uma doença terminal e que não têm…e que se sentem impotentes de poder…poder dar-lhes a vida, reverter a situação, é isso mesmo.
E.: Foi fácil criar uma associação de voluntariado?
P.: Fácil nunca é, nunca é fácil quando se envolve um trabalho de parceria, um trabalho de grupo, não é? Agora, fácil não é, é gratificante, muito, e é um trabalho de persistência, um trabalho constante de estarmos a crescer como pessoas e a crescer a nível de interacção, a nível de tudo.
E.: Foi um trabalho unicamente seu ou de um grupo?
P.: Foi um trabalho de equipa, sem dúvida, e eu…nós não conseguimos chegar aos resultados que chegamos até hoje se não tivesse a equipa que tenho, que não somos muitos, mas somos pessoas persistentes e pessoas de uma entrega total. Portanto, não sei se vocês sabem, a Cor é Vida funciona como uma equipa que só funciona nas horas pós-laborais, portanto, requer da equipa uma entrega muito grande.
E.: E foi fácil reunir um grupo de voluntários?
P.: É assim, tem sempre muito trabalho, muito trabalho. Quando trabalhamos com pessoas, não é? É muito gratificante, mas ao mesmo tempo requer também um trabalho muito cuidado a todos os níveis, não é? Portanto, não é fácil… Há uma coisa, nós temos…estamos muito conscientes daquilo…da missão da Cor é Vida, muito conscientes, e sabemos também que é preciso um perfil específico para manter esta alma viva da Cor é Vida. E como é necessário um perfil específico, é evidente que as pessoas que são… Muitas vezes, pessoas que aderem à Cor é Vida é por convite pessoal nosso, e as que vêm voluntariamente …há um trabalho cuidado com essas pessoas, que nós…é muito importante manter essa alma, essa característica que é específica da Cor é Vida, para que as coisas resultem e possam fluir da maneira que se quer e que se pretende. O grupo tem vindo a aumentar significativamente. Portanto, estas visitas ao hospital começaram comigo e com uma psicóloga, durante bastante tempo, depois começamos a recrutar outras pessoas e neste momento temos uma média de 60 sócios e uma média de 30 voluntários, que fazem um trabalho rotativo, mas não posso precisar o número certo. Este ano, o nosso objectivo é uma formação mais específica para os voluntários que já exercem.
E.: Em que tipo de actividades têm estado envolvidos?
P.: A nossa principal actividade começou precisamente com um projecto, que é a Cor é Vida, uma associação, que era fazer…tentar minimizar o sofrimento de pacientes e seus agregados, que, em contexto hospitalar e domiciliar, que se encontravam doenças graves, ou doenças crónicas, ou doenças que os impossibilitava de ter uma vida normal. Portanto, neste momento, a nossa actividade é uma actividade que excede essas visitas. Nós não só fazemos visitas ao hospital e domiciliar, mas também fazemos apresentações em diferentes estabelecimentos de ensino e para quê? Para formar pessoas, a tal motivação e sensibilização para o voluntariado.
E.: Têm obtido um bom feedback por parte da comunidade?
P.: O feedback é sempre bom, as receitas é que não são compatíveis com as necessidades. Agora, acho que este ano, em termos de visibilidade do projecto, acho que foi um ano bastante positivo, acho que começamos a ser notados. Por um lado, é um estímulo, por outro lado, não somos uma ilha e precisamos uns dos outros, é um modo de procurar recursos humanos e materiais e financeiros.
E.: O que sente ao fazer voluntariado e ao observar o resultado das suas acções junto dos necessitados?
P.: Olha, é assim, deixa-me explicar, é muito gratificante. Eu sou, portanto, mãe de quatro filhos, sendo que todos estão envolvidos em voluntariado, penso que é uma forma muito interessante de combater situações de risco e combater algumas problemáticas sentidas hoje em dia nos seios familiares, é precisamente haver…é aproveitar tanto quanto possível os temos livres em prol dos outros e isto eu penso que é, no fundo, o nosso recado. Para vocês, a camada mais jovem, é a melhor maneira de enriquecermos pessoalmente, quer a nível pessoal, quer a nível familiar…até ganhar competências a todos os níveis e combater muitas das problemáticas da juventude. Eu penso que há uma grande falta de amor no mundo e nesse sentido, penso que é um dever que nós temos, é não nos fecharmos no nosso casulo, mas tentarmos tanto quanto possível sermos um exemplo e não um sermão. Na minha vida pessoal só me tem enriquecido e tenho encontrado o equilíbrio que eu muitas vezes necessito, tem-me ajudado a manter a qualidade de vida, quer a nível emocional, quer até a sentir-me feliz, que é a nossa missão aqui na Terra, para isso é preciso a partilha, não consegues ser feliz sem te dares a ti mesmo.
E.: Que experiência mais a marcou?
P.: Olha, o que mais me marcou…eu acho que não tenho assim uma única experiência que mais me marco. Eu acho que várias experiências me têm marcado e o que mais me marca é quando nós vamos, por exemplo, visitar uma criança e ela está fechada em si mesma, com a sua dor, com os seus medos, com as suas angústias e nós conseguimos, através da nossa intervenção de equipa…essa criança está triste e quando nos despedimos, despede-se de nós com um sorriso, com um adeus feliz e contente. Isso é das experiências, para mim, mais gratificantes. Seria injusta ao dizer que esta ou aquela foi a que mais me marcou, são tantas aquelas que mais me marcaram ao longo desta intervenção com a Cor é Vida, portanto, não tenho nenhuma específica.
E.: Que importância tem o voluntariado na sua vida?
P.: Toda. Aliás, eu não me vejo sem… É uma das minhas prioridades e eu não me vejo sem fazer voluntariado.
E.: Sabemos que apesar de ter um curso na área de serviço social, tem-se dedicado ao longo da sua vida à arte, sendo artista plástica. Como consegue conciliar o voluntariado com a sua vida profissional e também familiar?
P.: Olha, eu acho que é a capacidade que a mulher tem de nós estarmos…acho que somos muito polivalentes e acho que temos essa capacidade de gerir o tempo e de fazermos muitas coisas ao mesmo tempo e então acho que…pronto, para mim é uma coisa natural, fazer várias coisas ao mesmo tempo. Mas é assim, eu também se não o faço já me sinto, assim, estranha e dizer “não estou a fazer nada!”, é uma coisa muito rara na minha vida, mas acho que também é importante. Agora, não quero fugir à tua pergunta, não acho que é uma capacidade só minha, é da mulher de hoje em dia.
E.: O esforço vale a pena?
P.: Claro. “Quando a alma não é pequena”… É isso, vale a pena. É a minha maneira de estar na vida e eu sinto-me bem com ela e, sobretudo, sinto-me...é gratificante o feedback tão positivo, tão querido que as pessoas que estão comigo… Portanto, eu sinto que estou a ir no caminho certo quando eu vejo o feedback dos meus colaboradores…tão gratificante. E isso dá-me a garantia de que estou no caminho certo.
E.: Enquanto presidente de uma associação de voluntariado, pretende deixar-nos alguma mensagem de incentivo a este tipo de iniciativas?
P.: Então, o meu apelo a cada um de vocês é… Acredito que o voluntariado é uma das ferramentas mais baratas que existe para podermos transformar realidades vulneráveis. E porquê das mais baratas? Porque, muitas vezes, basta-nos doar um pouco de nós próprios para transformarmos uma realidade menos simpática. O meu recado é este, aderirem ao voluntariado. Não importa o quanto tempo vocês aderem, mas a qualidade que vocês investem nesse, muitas vezes, pouco tempo, mas que seja uma entrega genuína, de coração. E o resto vem por acréscimo, em termos de ideias e de tudo o que possa advir desse trabalho, vem por acréscimo.